segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Kriyá – atividade de purificação das mucosas



(Texto retirado do livro Tratado de Yôga, DeRose)


Kriyá – atividade de purificação das mucosas
Kríya significa atividade. Os kríyas são técnicas de purificação típicas do Yôga Antigo. Consistem em uma verdadeira arte de limpar o corpo, por fora e por dentro, atentando para filigramas de fazer corar qualquer um de nós que se supusesse uma pessoa asseada.
Para perplexidade do arrogante ocidental moderno, os kríyas foram elaborados numa época em que a maioria dos povos hoje tidos como cultos nem tomava banho, nem escovava os dentes. Nessa época, os yôgis já estavam mais preocupados com o fator higiene do que nós hoje em dia, mais que todos os povos da época.
Eles sabiam, por exemplo, que não adianta só lavar o lado de fora, a face visível do corpo, se deixarmos imunda a parte que não é vista. Tinham consciência de que isso não é lá muito honesto, pois parece-se muito com jogar a sujeira para baixo do tapete. Só que o tapete, nesse caso, é o nosso corpo!
Os principais kriyás são seis, denominados shat karma.
1) Kapálabhati: Limpeza do cérebro e dos pulmões. Também pode ser catalogado como pránáyáma.
2) Trátaka: Limpeza dos globos oculares e treinamento para melhorar a visão. Tem atuação muito rápida para astigmatismo e hipermetropia.
3) Nauli: Limpeza dos intestinos e dos órgãos abdominais por massageamento.
4) Nêti: Limpeza das narinas e do seio maxilar com água (jala nêti) ou com uma sonda especial (sútra nêti).
5) Dhauti: Limpeza do esôfago e do estômago com água (jala dhauti) ou com uma gaze (vasô dhauti)
6) Basti (vasti): Limpeza do reto e do cólon com água. Foi o ancestral do clister.
Fora os kriyás principais, encontramos outros, entre eles, alguns realmente importantes. São os seguintes, em ordem alfabética.
1) Agnisára dhauti: Limpeza das vísceras e redução do abdômen.
2) Bahiskrita dhauti: Limpeza do reto com água ou com ar.
3) Chakshu dhauti: Lavagem dos olhos.
4) Danta dhauti: Limpeza dos dentes.
5) Danta múla dhauti: Limpeza da raiz dos dentes.
6) Dhauti karma ou Vasô dhauti: Limpeza do esôfago e do estômago com uma gaze.
7) Hrd dhauti: limpeza do coração.
8) Jíhva shôdhana: Limpeza da língua.
9) Jíhva dhauti: o mesmo que jíhva shôdhana.
10) Kapálarandhra dhauti: Limpeza dos seios frontais e da pineal.
11) Karna dhauti: Limpeza dos ouvidos.
12) Múla shôdhana: limpeza do ânus e do reto.
13) Shít krama: Limpeza da boca e narinas, absorvendo água pela boca e expulsando-a pelo nariz.
14) Sthala vasti: Limpeza do reto com ar, no viparíta karanyásana.
15) Sukha vasti: Limpeza do cólon com água.
16) Yôní vasti: Lavagem vaginal com água.
17) Vamana dhauti: Lavagem do estômago com água.
18) Varisara dhauti: Lavagem de todo o tubo digestivo com água, desde a boca até o reto.
19) Vasô dhauti: O mesmo que dhauti karma, citado acima.
20) Vátasára dhauti: Limpeza do estômago com ar.
21) Vyut krama: Lavagem das narinas introduzindo água pelo nariz e retirando pela boca.
Como os kriyás não são isentos de riscos, optamos por não ensiná-los neste livro. Devem ser aprendidos diretamente com um instrutor formado. Exija dele o Certificado de Instrutor de Yôga, revalidado (atente para o fato de que um mero certificado de Yôga é diferente de um Certificado de Instrutor; e de que para esse propósito deve estar sob a jurisdição da entidade de classe reconhecida).
Não custa, porém, deixar registradas três advertências.
I. Se você já conhece alguns destes kríyas, saiba que a lavagem frequente do seio maxilar ou dos intestinos pode causar dano à flora bacteriana.
II. Não introduza no seu corpo nenhum líquido que não seja água filtrada e fervida. Não proceda ao jala basti imerso nas águas de um rio, como induz a ilustração deste kríya em alguns livros de autor hindu: se houver caramujos você pode contrair esquistossomose.
III. Não recomendamos os kríyás que utilizem outros recursos além do ar ou da água. Nenhum instrumento deve ser usado, a não ser para o danta dhauti kriyá (em que pode-se utilizar a escova de dente moderna), para o jíhva shôdhana (em que pode ser utilizada uma espátula ou uma colher das de sopa especialmente reservada para esse fim), e para a lavagem intestinal ou vaginal (em que pode-se utilizar a ducha de borracha).


KRIYÁ YÔGA
Uma curiosidade: Kriyá Yôga é um tipo de Yôga que não tem kriyás!
Tampouco é secreto e jamais foi perdido, declarações essas que constam de um livro contemporâneo muito divulgado no século XX e que espalhou desinformação por entre os leitores leigos. O Kriyá Yôga é descrito no Yôga Sútra de Pátáñjali, que é uma obra de mais de 2000 anos. Já que o Yôga Sútra nunca foi perdido nem é secreto, o Kriyá Yôga lá mencionado também não o é.
O tronco de Yôga original dividiu-se primeiramente em oito ramos mais importantes: Ásana Yôga, Rája Yôga, Bhakti Yôga, Karma Yôga, Jñána Yôga, Layá Yôga, Mantra Yôga e Tantra Yôga. Estes subdividiram-se em muitos outros ramos. O Rája Yôga, por exemplo, deu origem ao Dhyána Yôga, ao Suddha Rája Yôga e ao Ashtánga Yôga (também conhecido como Rája Yôga de Patáñjali). Esta última subdivisão consiste em oito estágios: yama, niyama, ásana, pránáyáma, pratyáhára, dhárana, dhyána e samádhi. O segundo estágio, niyama, é formado por cinco partes. Pois o Kriyá Yôga é constituído por três dessas cinco partes, que são: tapas, swádhyáya e íshwara pranidhána, as quais resumem-se a três normas éticas.
Conclui-se, portanto, que o Kriyá Yôga é apenas o conjunto de três fragmentos de uma oitava parte de uma subdivisão de uma divisão do Yôga que professamos, o Yôga Pré-clássico. Na interpretação dessas três normas éticas podem desdobrar-se quaisquer procedimentos.
Tapas é a norma ética de auto-superação, que também pode ser entendida como esforço sobre si mesmo, disciplina ou austeridade. A partir daí, pode-se declarar, por exemplo, que uma prática de ásana, ou de qualquer outra técnica, seja tapas. Constitui uma excelente estratégia para poder dominar tapas a qualquer coisa. Artifícios semelhantes são aplicados com relação a swádhyáya e a íshwara pránidhána.
Como bibliografia de apoio a estas afirmações consulte o Yôga Sútra de Pátáñjali, capítulo II versículo I; e o livro Kriyá Yôga, de Srí Swámi Shivánanda, Editorial Kier, Buenos Aires. Este segundo ensina abertamente o legítimo Kriyá Yôga, sem mistérios.
Algumas pessoas aceitam métodos menos abarcantes por não conhecerem nada melhor. Assim, o que dispõem em seu limitado universo cultural parece-lhes, suficientemente bom e até divulgam que um recurso pequeno e pobre é melhor do que os dos demais. Imagine a perplexidade que essas pessoas experimentariam se conhecessem um Yôga absolutamente completo como o Yôga Antigo (SwáSthya Yôga). Completo e descomplicado!


SHANKA PRAKSHALÁNA
O shanka prakshalána é um capítulo à parte. Ele não está catalogado como kriyá clássico, porém, não resta a menor dúvida de que essa é a sua categoria. Tratá-se de uma lavagem intestinal feita ingerindo-se grande quantidade de água ou chá e expelindo-a sucessivas vezes pelos intestinos, com o auxílio de ásanas ou de nauli.
A variedade mais popular desse kriyá é realizada com ásanas pela simples razão de que a maioria dos aspirantes não consegue executar o nauli. Contudo, para quem consegue praticar essa técnica de movimentação da musculatura abdominal involuntária, a variedade que utiliza o nauli no lugar dos ásanas é bem mais simples, confortável e autêntica, por ser mais antiga do que a outra forma popularizada, cujas características são notadamente modernas.
A execução do shanka prakshalana é simples, não tem nenhum mistério e não merece a aura de suspense que alguns novatos tecem em torno dele.
A água deve ter sido filtrada e fervida. Para cada litro de água acrescente uma colher das de café, de sal. Não mais do que uma pequenina colher das de café, rasa! Deve ser ingerida quente como um chá. Aliás, tomar chá – ou melhor, infusão – no lugar da água é uma excelente alternativa para tornar shanka prakshalána mais agradável e, de quebra, não introduzir o sal assassino no seu corpo. Uma infusão rala de erva-doce ou de camomila pode ter efeitos muito benéficos para os aparelhos digestivo e excretor. Vale, no entanto, registrar que para algumas pessoas a infusão não produz resultados tão bons, a menos que seja levemente salgada.
Antes do shanka prakshalána é bom estar em jejum de, no mínimo, oito horas. Depois, não deve fazr jejum. O primeiro alimento será uma papinha de arroz branco bem cozido e regado com ghí ou, melhor ainda, com azeite de oliva extra virgem. Mais tarde, alimentação leve, de preferência legumes cozidos sem condimentos.
A TÉCNICA
Beba um copo daquela água quente ou infusão fraca. Em seguida faça o nauli repetidas vezes. Vá ao banheiro e tente evacuar. Não importa se conseguiu ou não. Repita toda a operação. Tente evacuar outra vez. E assim sucessivamente. Depois de algum tempo você começará a evacuar e seguirá eliminando até que já não haja fezes e você passe a evacuar líquido ingerido. Seus intestinos estarão perfeitamente limpos quando a bebida que for eliminada por eles sair absolutamente límpida. No caso, á água permite observar essa limpidez melhor do que a infusão, pois sairá clara.


DRISHTIS
Os drishtis são variedades de trátaka que podem ser utilizados sobr duas interpretações: como kriyás ou com dháraná. No primeiro caso são denominados bahiranga trátaka (externos) e no segundo caso, antaranga trátaka (internos). Como kriyás, o sádhaka não precisa atentar para a concentração mais do que o necessário à boa consecução da técnica.
Sendo os drishtis, exercícios de fixação do olhar, os músculos oculares são muito solicitados e os globos oculares ficam lavados pelo lacrimejamento. Por isso mesmo, se feitos com moderação podem beneficar os olhos e reduzir alguns problemas visuais. Mas, ao contrário, feitos com exagero poderão lesionar o mecanismo da visão.
Na variedade de exercícios para concentração, o yôgin deve esforçar-se por não deixar o pensamento evadir-se do objeto da fixação. Por exemplo, se o objeto é uma estrela, procurar ficar sem piscar o máximo possível de tempo, dentro do racional, mantendo a atenção fixa na estrela.
Os drishtis mais comuns são:
1) Naságra drishti: fixação na ponta do nariz;
2) Bhrúmadhya drishti: fixação na raiz do nariz, entre as sobrancelhas;
3) Shaktí drishti ou shakta drishti: fixação nos olhos da parceira ou parceiro tântrico;
4) Guru drishti: fixação na imagem (pintura, símbolo ou fotografia) do Mestre;
5) Agni drishti: fixação no fogo (chama de uma vela, fogueira, tocha, etc.)
6) Táraka drishti: fixação numa estrela;
7) Chandra drishti: fixação na lua;
8) Súrya drishti: fixação no sol (só no nascente e no poente, mesmo assim, apenas naquele momento em que não fira os olhos).


 MAUNA
O mauna é considerado um recurso de purificação. Mauna significa silêncio. Voto de mauna é o voto de permanecer em silêncio por um determinado lapso de tempo como tapas. Teve origem provavelmente nos mosteiros, onde a observância do silêncio facilitava a imposição da disciplina. No Shivánanda Ashram encontra-se escrito em dêvanágarí na parede de algumas salas: “mauna kripá”, que significa silêncio, por favor.
A prática de mauna tem muito mais a ver com a linha brahmáchárya do que com a linha tântrica que é libertária e prega que cada um exerça sua liberdade da forma mais plena. Assim sendo, no Yôga Antigo (SwáSthya Yôga) não incentivamos mauna, até porque pode colocar o praticante em situações difíceis perante a família e os amigos não praticantes. Lembre-se de que o SwáSthya Yôga, Método DeRose, distingue-se dos demais por não passar a imagem de alienação que se nota em algumas outras modalidades.
Se você for de linha brahmáchárya e quiser praticar mauna, atente para alguns cuidados: primeiro, não fazer “cara de brahmáchárya ocidental”, isto é, aquela fisionomia de equanimidade (falta de emoção). Mantenha-se extremamente simpático e sorridente, procurando participar de tudo com a maior naturalidade. Se alguém lhe dirigir a palavra, sorria e mantenha todas as atitudes normais do seus relacionamento com essa pessoa, reforçadas com uma dose extra de carinho e simpatia.

 
JEJUM (UPASANA)
Jejum não é kriyá, mas contribui para a purificação do organismo. O melhor jejum é o curto e frequente: 36 horas, uma vez por semana, tomando muita água mineral. Um dia antes, alimentação comedida, laxante natural (como uma infusão laxativa, ou caroços de mamão, ou água de ameixa deixada de molho durante a noite e bebida pela manhã), e um clister. Para terminar, frutas doces como mamão ou manga, antes de ingerir alimentos mais pesados.
Jejuns longos agridem demais o corpo, consomem massa muscular e podem comprometer a saúde. Devem ser evitados. Não obstante, podem ser utilizados em casos de extrema necessidade. Se forem praticados, só com muita prudência e acompanhamento médico.



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